terça-feira, 6 de novembro de 2012

Entrevista de Malu Galli ao site Globo Teatro

01/11/2012 - Atualizado em 05/11/2012

Oréstia

Além de atuar, atriz divide a direção com Bel Garcia

Malu Galli dirige e encena, na Casa de Cultural Laura Alvim, não apenas uma tragédia, mas aquela considerada por especialistas A tragédia: “Oréstia”, de Ésquilo, escrita em 458 A.C., única trilogia grega que sobreviveu ao tempo e chegou completa aos dias atuais. Malu mergulhou nesse universo primeiramente sem uma meta profissional, apenas movida pelo desejo de conhecer melhor a ancestralidade teatral. Aos poucos, foi encantando-se pela mitologia, filosofia e, especialmente, pelos personagens de Ésquilo: “O texto é apaixonante, e quando apareceu uma oportunidade de concorrer para patrocínio, eu me dei conta de que já tinha um projeto. Só precisava organizar”, conta.

Malu cercou-se de profissionais de reconhecida qualidade artística para montar uma equipe capaz de dar conta da empreitada. A coreógrafa Dani Lima responde pela direção de movimento; Afonso Tostes, pela cenografia e programação visual; Maneco Quinderé cuida da iluminação, particularmente importante em um espetáculo, “em que a luz tem uma função narrativa importante”, segundo Galli. Ela divide a direção com Bel Garcia, da Cia dos Atores. Completa a equipe Rómulo Fróes que, em parceria com Cacá Machado, concebeu toda a parte musical, outro aspecto crucial para uma peça com coro, elemento decisivo nessa dramaturgia: “Procurei alguém que, além de ter experiência com trilha para teatro, tivesse também um trabalho autoral, que fosse capaz de estabelecer um diálogo e também um confronto com o texto”, justifica Malu.

O elenco, composto por Malu, Bel, Luciano Chirolli, Otto Jr, Júlio Machado e Daniela Fortes teve aulas com Alexandre Costa, professor de filosofia grega. Vivenciaram um processo semelhante ao de uma companhia, forjando uma vocabulário próprio, familiaridade com o texto e intimidade neste período de pré-ensaio. Alexandre assina, juntamente com Patrick Pessoa, a tradução; Malu Galli e Bel Garcia respondem pela adaptação final, que procurou enfatizar alguns aspectos do texto de Ésquilo, desprezando temas secundários: “Procuramos preservar a poesia e certo eruditismo do texto, privilegiando o foco nas relações familiares, na figura dos heróis e sobretudo nas escolhas dos personagens, que afinal os fazem serem quem são”, explica Malu.

A montagem procura revelar a contemporaneidade do texto sem abrir mão das características que fazem dele um clássico. Galli lembra que o teatro de Ésquilo é, antes de tudo, uma experiência sensorial: “O coro apresenta uma coreografia específica e tem mais da metade das falas, que são cantadas; a música ocupa um espaço muito maior que no drama. O texto é um dos componentes do espetáculo, sem a centralidade que vai ter depois, quando a participação do coro diminui, até desaparecer”, ensina Malu. Ela reconhece que há ousadia em encenar uma tragédia num cenário cultural que privilegia o humor e a leveza, mas defende que a tragédia não é triste como o drama: “Tragédia é poesia, êxtase, música, beleza, uma experiência diferente”. Além disso, trabalha com arquétipos e questões universais, presentes no nosso inconsciente coletivo, como provam obras populares e bem sucedidas, como a recém-terminada novela “Avenida Brasil”: “Essa novela tinha vários elementos típicos da tragédia, como o retorno em busca da vingança, e o Brasil parou pra ver”, analisa. Assim Malu Galli estreia a temporada de “Oréstia”: apostando na excelência de Ésquilo e na inteligência do público, que tem a oportunidade singular de assistir a um espetáculo seminal para a história do Teatro.

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