sábado, 6 de abril de 2013

Oréstia estréia em São Paulo - Teatro Augusta - Malu Galli atua e dirige


Malu Galli e seu caminho de volta ao teatro em “Oréstia”

A protagonista e diretora da tragédia que pode ser vista no Teatro Augusta (Foto: Guga Melgar)
Malu Galli é uma atriz que sempre me impressionou. Sua imagem e sua voz, claro, me chamavam a atenção em peças como “Ensaio.Hamlet” e “Da Gaivota – Tema Para um Conto Curto”. Até que um dia, ela apareceu na minissérie “Queridos Amigos” e não saiu mais da TV, uma novela atrás da outra e nada de teatro. Isso me deixava intrigado. Mas agora a artista carioca de 41 anos voltou aos palcos. Em cartaz no Teatro Augusta, a tragédia “Oréstia” foi escrita por Ésquilo em 458 a. C. e é considerada por muitos o apogeu do gênero. Para compensar o tempo longe, Malu concebeu e dirigiu a encenação, que traz ainda os atores Gisele Fróes, Dani Fortes, Luciano Chirolli, Julio Machado e Otto Jr.
Acho surpreendente você ter ficado cinco anos sem fazer teatro. Foi uma estratégia para melhor investir na televisão?
Nada foi planejado, as coisas aconteceram assim. Fui chamada para fazer a minissérie “Queridos Amigos” (2008), e o trabalho teve muita repercussão. Era uma personagem incrível. Daí, pintou o convite para a primeira novela, “Três Irmãs” (2008/2009). Depois, uma proposta irrecusável para o seriado “Aline”. Eu poderia fazer humor, trabalhar com pessoas queridas, o texto era maravilhoso. E assim, fui ficando e aceitando convites muito bons, inclusive para esse atual trabalho, “Tapas e Beijos”.
Acredito que você tenha recusado trabalhos…
Neste tempo, eu fiz alguns filmes, perdi outros por não poder conciliá-los com o trabalho na TV, mas efetivamente não tive convite para teatro. Quer dizer, na verdade eu tive um, mas acabei recusando por motivos que não têm a ver com a TV. Fiz teatro por tantos anos. Era uma ou duas peças por ano. Dar um tempo e me descobrir em outro lugar também foi muito bom. Mas, mesmo assim, eu dirigi um espetáculo neste meio tempo, “A Máquina de Abraçar”, em 2009.  Mas é claro que depois de cinco anos, eu comecei a sentir muita falta de estar no palco.
Ficou difícil conciliar as duas coisas, não?
Quando dirigi “A Máquina de Abraçar”, eu estava gravando “Aline” em São Paulo, indo e vindo na ponte aérea. Depois, quando a peça estreou em  São Paulo, eu estava gravando novela no Rio. Fiquei exausta. Realmente não é o ideal, o melhor é fazer uma coisa de cada vez, mas às vezes aquela é a única maneira de realizar aquele sonho, então é arregaçar as mangas e partir para o esforço. Mas a direção é mais possível de conciliar com a TV. Eles dificilmente liberam os atores para estarem em cena de quinta a domingo. Eu não trabalho com stand-in, nem sei como seria isso. No caso da temporada de “Orestia” em São Paulo, foi perfeito porque só gravamos “Tapas e Beijos” de segunda a quinta.
No ano passado, li uma entrevista sua em que falava que seria apenas diretora de “Oréstia”. O que a fez mudar de ideia?
“Oréstia” passou por muitas mudanças até a semana da estreia. Tudo começou pela vontade de estar em cena. Concebi o projeto para fazer como atriz. Chamei dois diretores com os quais eu tinha vontade de trabalhar. Nenhum dos dois teve condições de aceitar. Mas, a essa altura, eu já tinha um elenco maravilhoso, pessoas em quem confiava. Eu pensei que não podia ficar correndo atrás de um nome para dirigir esse projeto. Perguntei ao elenco se eles topavam fazer comigo, eles gostaram da ideia e a coisa se formou. Então, eu desisti de fazer como atriz e resolvi só dirigir, o que já não era pouco! Convidei uma atriz para o meu papel e, tempos depois, ela saiu do projeto. Veio mais uma e, algum tempo depois, esta também desistiu. Então, eu pensei que essa personagem  estava me chamando… Convidei a Bel Garcia, que foi minha colega na Cia. dos Atores, para dirigir comigo. E assim eu poderia estar em cena também.
Malu e Thaís Araújo nos bastidores da novela "Cheias de Charme", no ano passado
Existe uma preocupação em trazer “Oréstia” para o mundo contemporâneo? O que a motivou nessa montagem?
Certa vez, li algo que o Antunes Filho falou sobre as tragédias que foi totalmente de encontro ao que eu pensava e intuía a respeito: estas histórias são como contos de fadas, histórias que nos constituem, que falam ao nosso imaginário mais remoto. Elas sempres serão contadas e recontadas ao longo dos tempos. Alguém pergunta qual o sentido de montar um conto de Hans Christian Andersen nos tempos atuais? Evitei fazer transposições ou analogias com o mundo contemporâneo, até por não sentir nenhuma necessidade disso. As guerras, os reis, as mães e os filhos não precisam ser localizados em nenhum tempo ou espaço para fazerem sentido. Não acho que eu precise forçar pontes para que o espectador se reconheça. O público faz relações o tempo todo com o que ele assiste e a vida real. Por outro lado, eu tive uma escola e uma trajetória no teatro que me constituem como encenadora. Minhas ferramentas e meu jeito de contar uma história – ou de criar sentidos – são da minha época. Então, há contemporaneidade na encenação, claro. Estou contando essa história hoje, com esta pespectiva.
Digamos que você tenha se tornado uma atriz mais popular. O público está vindo ao teatro por sua causa?
Percebo que algumas personagens que fiz se tornaram populares, mas não sinto que o público me conheça independentemente delas. E acho isso muito bom. Consigo trabalhar na TV e ir ao supermercado tranquilamente. Quanto à bilheteria, penso que quem vai ao teatro, vai pra ver a Orestia. Ela é tão mais famosa!!! Fiz tantos testes até conseguir um papel na TV. Deixei tantas fitas de videobook nas emissoras, rsrsrs, mas nunca rolou. Quando eu estava tranquila com relação a isto, fazendo a peça “Gaivota – Tema Para um Conto Curto” ao lado da Cia. dos Atores e feliz da vida, pintou o convite para um novo teste. Fui fazer, como sempre fiz todos os outros, só que desta vez eu passei. Acho que é um misto de maturidade para aproveitar bem o teste, e as circunstâncias estarem favoráveis para que queiram você.
Ao lado de Tarcísio Filho na minissérie "Queridos Amigos", primeiro sucesso na TV (Fotos: Divulgaçao/TV Globo)
Fonte dessa matéria Veja São Paulo

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